O aborrecido ABC de Berlusconi

Na terceira série de resenhas dos jornais espanhóis, vamos falar do ABC. Fundado em 1903, é o jornal mais antigo de Madri. Dos seis grandes é o único que tem o chamado "pecado capital", ou seja, passou incólume à ditadura de Franco, isso obviamente não ocorreu à toa. Se isso já não fosse suficiente para as muitas adjetivações que o tablóide tem, outro fato tem marcado o periódico: o dono do jornal é ninguém menos que Silvio Berlusconi, o primeiro ministro italiano que sugere que os desabrigados do terremoto se sintam de férias e que Obama "tomou muito sol".


O Obama no jornal

Assim como todos os jornais daqui, o ABC tem posição definida: é de direita, conservador. De fato, é o menos empolgante para leitura. Com um texto bastante aborrecido e com uma diagramação chata, traz em suas páginas temas enfadonhos com uma perspectiva noticiosa bastante peculiar. O exemplar sai 1,10 euro.
Percebemos que há sacadas interessantes e que acabam se tornando pesadas diante da ótica conservadora que não oferece ao leitor uma possibilidade de leitura menos enfadonha. Um bom exemplo disto são as seis páginas iniciais de um índice de notícias por fotos. Ocorre que seis páginas ficam pesadas, o texto-legenda é muito grande e nem sempre as fotos são boas o suficiente para atingir o que deveria ser a idéia inicial desta seção. Um índice-foto é legal, mas não desse jeito...

Toda quinta-feira o ABC publica o "Alfa y Omega", semanário de 32 páginas da igreja católica. Embora oficialmente publicado pelo bispado de Madri, ele não é publicado e impresso pelo ABC à toa. Na quinta, também é a vez de sua revista semanal de cultura, chamada Pantalla, ou seja, cultura para eles é a TV (aliás, eles dão um booom destaque pra TV espanhola do seu Silvio (o Berlusconi, não o nosso, rs).

Contra drogas, contra abortos, ele dedicou, por exemplo, uma página da edição desta quinta ao aniversário de 82 anos do Papa. Sim, isso é notícia, mas não com o texto do ABC. "Bento XVI prevê viajar o quanto antes for possível a Abruzos para difundir ânimo aos afetados (pelo terremoto)". Ou essa: "O pontífice, segundo preciou Lombardi (o porta-voz do vaticano), é uma pessoa de grande sensibilidade, grande humanidade e preocupação pelos outros". Apesar disso, não faz como o La Razón, de extrema direita, que não aceita publicidade de serviços sexuais. O anúncio de chicas a 100 euros por 24 horas estão a poucas páginas da comemoração de aniversário de Ratzinger.


O Papa no jornal

Como todo jornal daqui, ABC dá regalos aos leitores. Não é a Bíblia do La Razón, os DVDs eróticos do El País nem os cartazes comunistas antigos do Público. Como todo o jornal, são coisas sem sal: DVDs de contos do Irmãos Grimm, DVDs de shows do Elvis Presley e o seriado Raízes (lembram dele, no SBT? pelo jeito, os sílvios gostam desta história...).

As outras resenhas:
Público
La Razón