segunda-feira, 2 de março de 2009

Crise de um mês

No domingo, concluímos nosso primeiro mês em Madrid. (Embora a Bicca acredite que isso não vale. Segundo ele, fevereiro, por ter 28 dias, não é de verdade, isso so ocorrerá quando completarmos 30 dias aqui. Ou seja, o mês em que nasci é uma farsa, rs). Obviamente não poderíamos deixar de fazer um balanço deste período. O balanço começou de forma involuntária.

Depois de uma boa noitada de sábado, com direito a rever amigos e até dançar música latina (leia-se Ricky Martin), acordei de ressaca no domingo com uma Alexandra a beira de um ataque de nervos. Até chorar, chorou.

Não, não haviamos brigado, nenhuma camanga havia se fresqueado para mim, não rolou retoço. Ela também não estava machucada, doente, grávida, com angústia ou saudades crônicas. Ela queria uma chuleta.

Mas não podia ser qualquer chuleta. Tinha que ser gaúcha, uruguaia ou argentina. Acompanhada de salada de maionese. Afinal, a carne européia não tem gosto, segundo ela. "Essa carne daqui nem sangue tem, Henrique, como pode isso?". Por mais que se pareça frescura, o caso foi sério. Durante o período mais grave, da tremedeira, ela pensava em abandonar tudo e abrir uma importadora de carnes brasileiras na Europa. Desconjurou a política de subsídios agrícolas dos países ricos. Pensei em usar seu caso como um argumento definitivo para a Rodada de Doha.

Ela não quis nem ligar pra sua famìlia, via MSN, para nao saber involuntariamente o que eles estavam almoçando no domingo. Adivinha o que deveria ser, em pleno Rio Grande? Me recordei da outra crise grave de abstinêcia, na viagem a Europa em 2007, quando o período crítico foi registrado após apenas 15 dias sem carnes dos pampas. Por sorte, naquela vez, resolvemos em uma churrascaria uruguaia em Amsterdã, a um preço camarada. Derssa vez, contudo, nao dava para ir para lá, assim, do dia pra noite...

Como na outra crise, prometi a ela que encontraríamos "carne de verdade" na Espanha. Que iríamos comer nossa refeição mais cara até então no Gaúcho Brasileiro, algo como 40 euros por pessoa. Isso, contudo, não poderia ser no domingo, não naquela hora.

Saímos então e tudo ficou visualmente bem, mas com alguma coisa no ar. Passeamos muito a pé: La Latina, Embajadores, Lavapiés, Passeo del Prado. Até exposição do Rodin vimos. Compramos filmes, tomamos café, no divertimos. Mas o fantasma estava ali, vivo.

Ao entrar no El Corte Inglés para pegar os ingressos para o show de Franz Ferdinand (essa parte é pura provocação, rs), descemos até o supermercado da rede. A alegria renasceu: estava ali, na prateleira, bifes argentinos a 4 euros. Bicca voltou a sorrir.

Mais que resolver a crise do primeiro mês, aquele singelo pedaço de vaca gelada nos trouxe a garantia de paz para o período que nos espera. O paraíso está a 4 estaçoes de metrô! E melhor, por um preco razoável, não vamos precisar comer, literalmente, uma passagem de ida e volta a Barcelona ou Lisboa!

A minha crise, foi bem mais simples. Bicca queria me dar um presente de aniversário. Cheguei a pensar em pedir um pedaço de jamom, sabe, uma perna inteira, ali, na minha casa. Era tentador, mas a bicca preferiu algo mais romântico.

FOTOS
Fotos de nosso domingo de um mês. Na sequência, um artista de rua engraçado, uma exposição do El Corte Inglés com lagostas vivas (!!) e uma capa bizarra de uma revista estranha daqui, que no comprei pois estava cara;












5 comentários:

  1. Entendo perfeitamente, o caso é sério. Se em SP churrascaria é sinônimo de "rodízio" de feijoada, massas e sushi e carne mesmo fica restrita a uns pedacinhos de picanha alho e óleo (!!!) e alcatra no espeto (!!!!!!!!!!!!!!), imagina em Madri. Mas a pergunta que não quer calar: o que vc ganhou de presente afinal????
    Beijos, saudadocês
    Cris

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  2. Querido, não deixe a sua esposa com crise de abstinência! Tem um restaurante argentino na Gran Vía, com menus baratinhos... com direito a linguiça de entrada, bife de chorizo e sorvete de doce de leite de sobremesa! Não sei o endereço exato, exato... mas tenho certeza que vcs serão capazes de encontrá-lo! Suerte! E parabéns por sobreviver ao primeiro mês!

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  3. Rapá, agora sim, isso tá parecendo alta literatura! Os conflitos, a dura vida do imigrante, a comédia que nasce da tragédia. hahaha

    Abraços e boa sorte!

    Dubes

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  4. eu pude visualizar a bicca perguntando COMO É QUE PODE ISSO,HENRIQUE? hehehe....muito bom esse post...e a carne tava boa??
    só fiquei com uma dúvida: o que vc ganhou de aniversário? ;)
    beijosss

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