quarta-feira, 3 de junho de 2009

Cordeirinho turístico

Na terça fui a Aranda de Duero. Fui a trabalho, conhecer a IX Jornadas del Lechazo Asado, um festival gastronômico de um mês para vender cordeiro precoce. Eles assam o bicho sem que ele tenha sido desmamado, com 22 dias de nascido. No máximo, segundo me explicou a dona de um dos restaurantes, eles vivem até os 40 dias e, necessariamente, nunca podem ter ingerido outra coisa que não o leite de sua mãe.
Além do gosto do cordeirinho, perfeito, outras coisas me chamaram a atenção nessa viagem. A primeira é como a Espanha, hoje em dia, parece um país falso, feito sob medida para os turistas. Sim, o lechazo é tradicional, é feito há 500 anos (tem até uma escultura super antiga na igreja da cidade, com um lechazo na santa seia, vejam abaixo), mas o modo que eles tratam de suas tradições chega a irritar, me lembrou uma conversa que tive recentemente com a Letícia.
Tudo bem que um país com 46 milhões de habitantes e que recebe 60 milhões de turistas por ano gerando 12% da economia local tenha que se preocupar com seus visitantes, mas, muitas vezes, há exageros e muitas coisas ficam um clima falso. Aranda, por exemplo, está se transformando para os turistas. Na palavras do prefeito: "Quando decidimos que faríamos as jornadas de lechazo, começamos a preparar a cidade, criamos nossos três museus e estamos recuperando nossas igrejas, algumas com construções do século X".
Ou seja, se não fosse o objetivo de vender cordeirinhos mortos, a cidade ficaria sem museus e suas igrejas seculares ruiriam. O ufanismo aos "folclores" da região também soam fabricados. No guia da cidade, uma das atrações turísticas é um busto de um cara qualquer. Um busto!
A música especial deles me parece uma mistura da música tradiconal da Epanha com fortes doses de música medieval, ou seja, "fabricada". As rupitchas dos músicas me pareceu figurino. As bodegas da região, produtoras de um bom vinho, viraram "bares para amigos", com uma profusão de "elementos decorativos históricos", nos tortuosos túneis sob a cidade. Se fossem mantidos como originais, sem um milhão de quadros, fotos, garrafas vazias e até poços falsos, ficaria melhor...

Lógico que a cidade é bonita e que o lechazo vai ficar sempre vivo em minhas lembranças, mas os espanhóis precisam parar de planejar a "fiesta" que os tornaram célebres recebedores de europeus endinheirados do norte. Que cada vez mais vão para a Croácia...
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Depois de uma degustação de vinho em Aranda, com remissões a sabores e odores de batatas, chocolate, chiclete, barril, cereja e maracujá, tenho uma dúvida: a bebida não pode simplesmente cheirar a uva e ter gosto de vinho??

Um comentário:

  1. Sinto que vc estava com um certo mal humor esse dia, Henrique, jejejejeje. Mas concordo: muita coisa na Espanha, principalmente nas cidadezinhas, tem uma cara de presepada para turista. Mas sempre me lembro, infelizmente, de Salvador e aqueles esquemas grotescos para atrair gringos. É o turismo global, meu caro, ninguém escapa :-)

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